Vantagens do jejum e da abstinência

D. Carlos Lema Garcia

Há pessoas que se referem às práticas de jejum e de penitência da Quaresma como algo negativo ou até prejudicial. Na verdade, a penitência é o contrário do pecado. Quando decidimos desobedecer a Vontade de Deus expressa nos Mandamentos, nessa medida nos separamos da santidade e, portanto, da felicidade. E quando realizamos uma obra de penitência ou um momento de oração, essas boas obras nos aproximam de Deus e, por isso, contribuem para o nosso crescimento espiritual no caminho da santidade. Assim, a penitência é uma ação positiva. Isso é muito bem esclarecido pela liturgia em um dos prefácios da Quaresma, onde se afirma que o jejum e a abstinência que praticamos neste período tem várias vantagens: corrigir os nossos vícios, elevar os nossos sentimentos, fortalecer nosso espírito fraterno e garantir a recompensa eterna. Vamos entender melhor.

O primeiro fruto da penitência visa corrigir os nossos vícios ou, como diz um Padre da Igreja, o melhor jejum é o jejum de pecar. Ou seja, a penitência visa primeiramente purificar os nossos pecados, precisamente aqueles que mais nos prejudicam ou em que caímos com frequência: as críticas sobre o comportamento dos outros, as reações mau humoradas, os descontroles na comida, na bebida, no descanso, os olhares curiosos na internet, a preguiça diante dos deveres do trabalho, a indiferença com as pessoas necessitadas, as mentiras, as injustiças etc. Assim, ao meditarmos a Paixão de Cristo, brotará em nosso coração o arrependimento desses pecados e o desejo de confessá-los e de nos corrigirmos verdadeiramente.

A penitência da Quaresma também tem a finalidade de elevar os nossos sentimentos: permite-nos usufruir da verdadeira liberdade dos filhos de Deus. Aprender a entrar em clima de oração, a contemplar o amor com que Jesus abraça a Cruz no caminho do Calvário, como se entrega generosamente e oferece a sua vida em resgate dos nossos pecados. Elevar os nossos sentimentos para desprender-nos do mundo interior confuso e agitado, ganhar a paz e o silêncio necessários para conseguir escutar a voz de Deus em nossos momentos diários de oração, e entender melhor o que acontece em nossa vida.

Em relação ao amor fraterno, a penitência nos convida a superar as diferenças, os pequenos atritos com o modo de ser das pessoas com quem convivemos mais estreitamente, em casa e no trabalho. Uma penitência considerável é saber sofrer com paciência os defeitos do próximo. Outra: manter um sorriso habitual, comportamento de quem se esquece das suas coisas para fazer os outros passarem um bom momento.

Por último, a oração mais intensa, a prática da penitência e das obras de caridade colocam-nos no caminho do Céu e merecedores da recompensa eterna, da posse da visão de Deus. Vale a pena sermos generosos nesse caminho de oração e de penitência mais intensas da Quaresma: assim chegaremos mais purificados para saborearmos a verdadeira alegria da Páscoa.

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