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As bem-aventuranças

Dom Carlos Lema Garcia

No sermão das bem-aventu­ranças, Jesus dirige-se a seus seguidores e descreve sua si­tuação, sua realidade: são po­bres, estão famintos, choram, são odiados e perseguidos. Além desse sentido práti­co e real, as bem-aventuranças devem ser entendidas como qualidades espirituais dos discípulos e de todos aqueles que se entregarem para seguir Jesus. Mas Jesus enxerga mais longe e afirma algo que, aos olhos humanos, parece um verdadeiro absurdo: vocês são bem-aventurados, significa felizes, ditosos, porque são po­bres, porque têm fome, porque choram… Como podemos entender? Parece que não há lógica! Jesus começa falando de felicidade, porque é uma força irresistível do coração humano, porque todos temos fome e sede insaciáveis de felicidade, de plenitude, de realização.

Bem-aventurados, felizes: como não se sentir atraídos pelas palavras do Se­nhor? Deus quer a nossa felicidade. Co­locou esse desejo no mais profundo do nosso ser. E, com as bem-aventuranças, nos mostra o único caminho para a fe­licidade eterna a que o nosso coração aspira. Deus nos concede uma antecipa­ção da felicidade da Glória celestial, para quem vive nesta terra de acordo com as bem-aventuranças. Portanto, não se trata de uma felicidade futura: Deus não nos propõe uma escolha: ou você é feliz nes­ta vida ou na outra: “a felicidade do Céu é para os que sabem ser felizes na terra” (São Josemaría, Forja, nº 1005).

A alternativa se dá entre os bens ver­dadeiros e os bens falsos. Reparamos que Cristo propõe uns padrões de felicidade que estão no contrafluxo dos conceitos humanos: o mundo propaga que felizes são os ricos, aqueles que podem gastar de acordo com os seus caprichos, os que usufruem de posses e têm reservas para o futuro: parece mesmo que a maior fonte de promessa de felicidade para as pessoas reside na solução dos seus pro­blemas financeiros. No entanto, Jesus diz: felizes os que têm coração de pobre. O mundo diz: felizes os que só têm moti­vos para rir, os que se divertem conforme seus desejos, os que não sofrem, os que não precisam fazer nenhum tipo de sa­crifício. Mas Jesus, ao dizer felizes os que choram… porque serão consolados, está falando daqueles que choram os seus pe­cados e atingem a contrição necessária para se purificar dos seus erros.

Jesus propõe uma reviravolta total em relação aos valores mundanos. Exalta e abençoa a pobreza, a doçura, a miseri­córdia, a pureza. As bem-aventuranças fazem-nos adquirir uma visão elevada, superior, sobrenatural. Dão-nos critérios diferentes. Mostram-nos que os bens do espírito estão muito acima dos bens ma­teriais. Nem a falta dos bens, nem a dor, a doença, a injustiça… nada disso é capaz de abalar aqueles que confiam plenamente em Deus. Assim, entendemos as palavras do profeta Jeremias, na primeira leitura proclamada no 6º Domingo do Tempo Comum: Bendito o homem que deposita a sua confiança no Senhor e cuja esperan­ça é o Senhor. Assemelha-se à árvore plan­tada à beira da água, que estende as raízes para a corrente. Quando chegar o calor, não o sentirá, e a sua folhagem continuará verdejante. E em ano de seca, não se in­quietará; continuará a dar fruto. Pelo con­trário, é maldito o homem que confia em outro homem, que faz da carne o seu apoio e cujo coração vive distante do Senhor.

O cristão tem a sua esperança posta em Deus e, porque conhece e aceita a sua fraqueza, não se fia de si próprio. Sabe que, em qualquer tarefa ou empreendimento, deverá mobilizar todos os meios huma­nos ao seu alcance, mas também sabe que, antes de tudo, deve contar com a oração; reconhece e aceita com alegria que tudo o que possui foi recebido de Deus. Lembra­mos também daquelas outras palavras de Jesus: “Bem-aventurados os que ouvem a Palavra de Deus e a praticam”, os que co­nhecem aquilo que Deus quer e abraçam a sua Vontade, mesmo que lhes custe. Eu posso dizer que estou no caminho da fe­licidade? Realizo o plano de Deus? Estou fazendo a minha parcela?

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