As virtudes de São Paulo Apóstolo

D. Carlos Lema Garcia

Sabemos que Paulo se converte a Deus de todo o coração, e o mesmo ímpeto com que antes perseguia os cristãos – aumentado e fortalecido pela graça divina – colocará a serviço do grandioso ideal que acaba de descobrir. O Senhor disse a Ananias que “este homem é para mim um instrumento escolhido, que levará o meu nome diante das nações, dos reis e dos filhos de Israel. Eu lhe mostrarei tudo o que terá de padecer pelo meu nome” (At 9,15-16).

Paulo mereceu o título de apóstolo e recebeu o encargo divino de difundir o Evangelho. De fato, na prática, ninguém percorreu tantos quilômetros como ele, por terra e por mar, com a única finalidade de anunciar o Evangelho. Em suas cartas, fala como foi escolhido pela graça de Deus com a revelação de Jesus, tendo em vista o anúncio aos pagãos. “Não sou eu livre? Não sou apóstolo? Não vi Jesus Nosso Senhor?” (1Cor 9,1). Eu vi o Senhor: este é o motivo da sua transformação: encontrei Jesus, ou melhor, fui encontrado por Jesus. Deus entrou em minha vida de uma forma imperativa. Esta é a primeira condição para ser apóstolo: ser testemunha de Jesus Cristo ressuscitado. Tomará como própria a mensagem que os outros Apóstolos receberam e que Cristo nos transmite: “Ide pelo mundo inteiro e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15). Paulo aceitou esse compromisso e fez dele a razão da sua vida. É um exemplo vivo para nós, que também vivemos nossa vocação de discípulos missionários nessa cidade imensa.

Aprendamos de suas virtudes: “O Apóstolo interessava-se pessoalmente por cada um dos convertidos, e ouvia as suas dúvidas, dificuldades e pedidos; com a sua extraordinária simpatia, introduzia-se no coração de cada um e punha a serviço de todos a sua espantosa força persuasiva, a sua encantadora amabilidade, a sua entrega absoluta. Todos estavam presentes no seu coração e na sua memória: os impetuosos, os exuberantes, os medrosos, os que duvidavam, os que tinham dificuldades, os críticos, os hesitantes e os tímidos… Este homem maravilhoso manejava os mais ternos e delicados recursos do coração e toda a rica gama dos sentimentos humanos. Tecia-se, assim, um laço da mais íntima amizade entre ele e os seus neófitos. Esta ternura pessoal é uma das principais características do seu método apostólico. Não provinha do cálculo nem obedecia à necessidade egoísta de estar rodeado de amigos; era o desejo de trazer os fiéis para a mais estreita intimidade com Cristo…” (Holzner, Paulo de Tarso, p. 223).

Antes de mais nada, Paulo procurava em cada pessoa a sua faceta genuinamente humana, para fazer dela a sua aliada: “Fiz-me fraco com os fracos, a fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para salvar a todos” (1Cor 9,22). Procurava pontos em comum. Sabia colocar-se na situação dos outros, entrar no miolo da personalidade das pessoas, muitas vezes bastante diferentes dele, em mentalidade, cultura etc. Por exemplo, quando vai a Atenas, fala do altar ao deus desconhecido (cf. At 17,23). No final da vida, quando se encontrar quase sozinho, abandonado no fundo de uma prisão em Roma, chegará a escrever: “Estou inundado de alegria em todas as minhas tribulações” (2Cor 7,4). A felicidade de Paulo não consistiu na ausência de dificuldades, mas em ter-se encontrado com Cristo e em tê-lo servido com todo seu coração e com todas as suas forças. Saibamos imitar seu exemplo.

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