São Marcos, exemplo de superação das próprias debilidades

D. Carlos Lema Garcia

Sua festa é comemorada no dia 25 de abril. Marcos é um dos quatro evangelistas: o seu relato é o mais breve e o mais cheio de vivacidade. Os estudiosos encontram traços de duas assinaturas de Marcos como autor do segundo Evangelho: o rapaz da vasilha na localização da sala para a última Ceia e o que fugiu no Horto das Oliveiras, deixando o lençol com que se envolvia. Escreveu a catequese de Pedro em Roma: era o seu tradutor, pois sabia falar grego e latim. Chegou a ser santo, mas antes nos ensinou a superar a covardia e as dificuldades.

Sua casa tornou-se a primeira igreja cristã: lá estava o cenáculo, que sua mãe, viúva e rica, havia emprestado para Jesus celebrar a última Ceia com seus discípulos. Provavelmente, nessa mesma sala, Jesus ressuscitado entrou na tarde do domingo da Páscoa e, também nesse lugar, o Espírito Santo inundou os corações no dia de Pentecostes.

João Marcos é um jovem que se entusiasmou com a figura e as palavras de Cristo. Por isso, seu tio, Barnabé, convidou-o para acompanhar Paulo na primeira viagem apostólica, da Palestina à Ásia Menor. Ele começou bem, mas, sendo ainda imaturo e inexperiente, assustou-se, porque a aventura de ser apóstolo era arriscada: deviam trilhar caminhos difíceis pela cordilheira do Tauro, por 150km até chegar a Antioquia, por caminhos intransitáveis, com perigo de assaltos e emboscadas nas montanhas. Também enfrentam intempéries: calor, frio e ventos fortes; e têm de dormir muitas vezes ao relento. Com isso, ele começa a se sentir desanimado e fraco para continuar: assim, decide separar-se deles e voltar a Jerusalém. Marcos foi covarde e fraco, não se pode negar. Aliás, ele já havia fugido antes, quando Jesus foi levado preso no Horto das Oliveiras.

Cinco anos depois, Marcos volta a deixar a casa da sua mãe e o conforto, e se apresenta como voluntário quando Barnabé está preparando a segunda viagem com Paulo. Paulo considera-o ainda pouco maduro, inconstante e poderia ser um estorvo: prefere não levá-lo. Barnabé, por sua vez, reconhecendo sua timidez e covardia, mesmo assim, deseja oferecer-lhe uma nova chance. Será uma oportunidade de mostrar sua audácia e valor. E se produziu uma discordância (cf. Atos 15,36-40). Ambos são igualmente inteligentes e santos e têm zelo pela dilatação do Reino de Deus. Assim, decidiram dividir-se: Barnabé tomou Marcos consigo e embarcou para Chipre; Paulo escolheu Silas e se dirigiu para a Síria. Assim, Deus se serviu desta diferença de pareceres para que se pregasse a sua Palavra em dois mundos diferentes.

Com o passar do tempo, as coisas mudarão: Marcos terminará bem. Barnabé tinha razão e Paulo acabará mudando sua opinião, pois encontrará Marcos em Roma, como discípulo e colaborador de Simão Pedro. Paulo deixará escrito em duas cartas que Marcos foi um grande colaborador: sugere aos colossenses que o recebam bem. E, no final da sua carta a Timóteo, como um último desejo antes de morrer, pede que traga Marcos, que “é muito útil para o meu ministério” (2 Tim 4,11).

Aquele que foi frágil e medroso na primeira viagem, demonstrará depois haver-se tornado um homem forte, ativo e valente, tendo chegado a anunciar o Evangelho em Chipre, Roma, Egito, Ásia Menor e Alexandria. O percurso de Marcos nos ensina que é muito interessante começar com brio, mas, mais importante ainda, superar as dificuldades e terminar bem.

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