Tentações perigosas

D. Carlos Lema Garcia

Conta o Evangelho que Jesus, assim que recebeu o batismo de João, foi conduzido pelo Espírito ao deserto para ser tentado pelo demônio. Com isso, Jesus quer nos ensinar a vencer as tentações que sofreremos ao longo da nossa vida.

Deus permite que soframos tentações porque nos ensinam a crescer diante os obstáculos e progredir na prática do bem. Já o ensina São Tiago: “Feliz o homem que suporta a tentação. Porque, depois de sofrer a provação, receberá a coroa da vida que Deus prometeu ao que o amam” (Tg 1,12)

Interessante saber que os aviões sempre decolam e aterrissam no sentido contrário ao do vento: se não encontrassem resistência do ar ou recebessem uma forte ventania na cauda (que aparentemente parece ser a favor), a vida dos passageiros estaria em sério perigo. Assim também acontece na vida cristã: para crescer é preciso enfrentar a resistência das tentações. Deus permite que sejamos tentados para provar a nossa virtude e o nosso amor: a tentação vencida nos dá o mérito de ter correspondido à ajuda de Deus. É uma demonstração do bom uso da liberdade: mereceremos um prêmio, porque podendo escolher o mal, fazemos o bem.

É verdade que toda tentação é enganosa, por ser incitada pelo demônio, pai da mentira, ou pelo orgulho de nos considerarmos melhor do que somos, pela mentira sobre nós mesmos. A tentação promete o que não pode dar. No entanto, há algumas tentações perigosas, porque são sutis, e facilmente podem nos iludir.

A primeira é a tentação do adiamento. Trata-se de uma forma de se enganar, ao postergar ao máximo possível a realização de deveres difíceis, como, por exemplo, fazer uma Confissão bem feita, ter uma conversa esclarecedora com aquele amigo envolvido com bebida, com negócios escusos, ou relacionamentos ilegítimos. A pessoa pensa: “eu tenho que resolver isso, mas acho que ainda não é o momento…” Há pessoas fracas que têm este modo de atuação constante: “deixa para mais adiante…” E os problemas não se resolvem.

A segunda tentação perigosa é a mediocridade. Lembro-me daquele conselho da avó ao neto, piloto comercial: “Meu neto, eu fico apavorada quando você está pilotando esses aviões: me prometa uma coisa: voe bem devagar e baixinho.” Isso acontece com quem não corresponde ao amor de Deus, porque foge do sacrifício, porque se contenta em fazer o mínimo necessário, preocupando-se apenas em não cair em grandes pecados, mas não se afasta dos pecados veniais; assim como quem acha que não precisa fazer penitência, ou quem se contenta em cuidar da sua vida cristã e não se esforça em aproximar seus parentes e amigos da fé.

Desistir é a terceira tentação perigosa: quem acha que nunca vai conseguir vencer seus erros, pecados e defeitos e deixa de lutar. Cai e permanece caído, abandona o esforço de se corrigir. O Papa Francisco falou disso no encontro com os voluntários da JMJ do Panamá: “Não se assustem à vista das suas fraquezas; não se assustem sequer à vista de seus pecados: levantem e continuem em frente, sempre em frente! Não fiquem caídos por terra, não se fechem, continuem em frente com o que têm de mais importante, continuem em frente; Deus sabe como perdoar tudo!

Jesus nos recomenda uma atitude clara: “Vigiai e orai para não cairdes em tentação”. Vigiar significa cortar imediatamente o assalto da tentação, fugindo dela. Orar: “Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além do que podem as vossas forças, antes fará que tireis ainda vantagem da própria tentação, para a poderdes suportar” (I Cor10,3)

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