Maria Madalena

D. Carlos Lema Garcia

Durante o Ano Santo da Misericórdia, o Papa Francisco decretou que a memória obrigatória de Santa Maria Madalena – celebrada no dia 22 de julho – fosse elevada ao grau de festa no Calendário Romano Geral. Madalena, testemunha ocular de Cristo Ressuscitado, também foi a primeira a dar testemunho diante dos apóstolos, cumprindo o mandato de Jesus: “Vai ter com os meus irmãos e diz-lhes… Maria Madalena foi anunciar aos discípulos: Vi o Senhor. E contou o que Ele lhe tinha dito” (Jo 20,17-18). Desse modo, ela se torna, como diz São Tomás de Aquino, “apóstola dos apóstolos”, pois anuncia aos apóstolos aquilo que, por seu lado, eles anunciarão a todo o mundo (cf. São Tomás de Aquino, In Ioannem Evangelistam Expositio, c. XX, L. III, 6).

Maria Madalena era originária de Magdala, pequena cidade da Galileia a noroeste do lago de Tiberíades, e fazia parte do grupo de mulheres que seguia Jesus e o servia com os seus bens. Segundo as revelações particulares de Anna Catarina Emmerich, Madalena, junto com Maria, a Mãe do Senhor, enxugou o sangue precioso de Jesus, derramado durante o longo suplício da flagelação. Encontrou-se ao lado de Santa Maria durante o percurso da Via-Sacra e também esteve presente no Calvário: está ao pé da Cruz, sofrendo e chorando, servindo de apoio à Mãe de Jesus. Com a Morte de Jesus, Madalena estava desconsolada e, movida pelo seu grande amor, não se afastou do sepulcro. Isso explica o fato de que, na madrugada do dia da Páscoa, teve o privilégio de ser a primeira a ver Jesus ressuscitado, a quem reconheceu quando a chamou pelo seu nome.

Maria estava cansada: talvez não tivesse dormido aquelas últimas noites. Não conseguia conciliar o sono pelas lembranças da Paixão. Fechava os olhos e tudo voltava a lhe aparecer: a flagelação, a coroação de espinhos, as brutalidades contra Jesus. Sabia que o túmulo estava selado, fechado com uma grande pedra, e pensava que os soldados não a deixariam se aproximar do sepulcro. Maria Madalena, porém, amava Jesus com todo o seu coração e com todas as suas forças. Por isso, não desanimava, não se deixava abalar pelas dificuldades. Ela não se afastava do túmulo porque não conseguia viver longe de Jesus. Assim, Maria ficou junto do sepulcro, do lado de fora, chorando. Estava aflita. Tinha perdido o seu Mestre para sempre. Não restava mais nada Dele: até o seu corpo haviam tirado do sepulcro. Madalena chorava diante do túmulo vazio. Debruçou-se sobre o túmulo e tocou o lugar onde o corpo do Senhor fora piedosamente depositado. Nisso apareceram dois anjos, que lhe perguntam: “Por que choras, mulher?”. Pela sua resposta, vê-se que ela não pensava na ressurreição: estava convencida de que o túmulo fora violado. “Porque tiraram o meu Senhor, e não sei onde o puseram…” Essa maneira de dizer denota que ela pertencia a Deus e que Deus pertencia a ela: “O meu Senhor…”

E saiu. Novamente se deparou com um vulto, que lhe repetiu a pergunta: “Mulher, por que choras? A quem procuras?”. Pensando se tratar do jardineiro, respondeu: “Senhor, se o levaste tu, dize-me onde o puseste, e eu irei buscá-lo…” Continuou pensativa, até que aquele personagem a chamou pelo nome: “Maria!”. Reconheceu o timbre de voz e a maneira como Jesus a chamava. Por isso, respondeu com a mesma familiaridade de outros tempos: “Rabuni!”. Meu grande e bom mestre! Uma mudança indescritível se processou como uma só palavra! “Maria Madalena correu para anunciar aos discípulos que ela tinha visto o Senhor e contou o que Ele lhe tinha falado” (Jo 20,17-18).

Aprendamos de Maria Madalena a vencer os sinais externos de fracasso. Não podemos nos deixar levar pela falta de resultados externos e palpáveis de nossa oração. Às vezes, Deus permite que nos sintamos como ela: o sepulcro vazio, a falta de notícias, tudo parece sem sentido, tudo derrubado… Parece que Deus se esconde: não sabemos onde encontrá-lo; sentimo-nos perdidos, desorientados. A nossa confiança parece haver perdido o brilho. Nossa fé começa a se transformar em desconfiança. E temos a sensação de que não somos ouvidos. Sobrevêm em nós a dúvida e a incerteza. O exemplo de Madalena anima-nos a continuar a amar Jesus Cristo com todas as nossas forças. A procurá-lo sem cansaço, aconteça o que acontecer. Mesmo que não enxerguemos quase nada, ainda que tenhamos a impressão de que tudo desaba… Jesus está muito próximo de cada um de nós. Nós também temos Jesus agora aqui, diante de nós: está presente na Eucaristia, e nos espera no sacrário de todas as igrejas. Vamos imitar Maria Madalena e manifestar o nosso amor e a nossa fé na presença de Jesus na Eucaristia, colocando-nos assiduamente em oração diante do Santíssimo Sacramento.

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