São Josemaría, um santo entre nós
Dom Carlos Lema Garcia
Nestes dias, comemoramos os 50 anos da estada de São Josemaría, sacerdote, fundador do Opus Dei, em São Paulo, e temos o coração cheio de ação de graças. Naquele momento (maio-junho de 1974), eu era um estudante da terceira série do ensino médio e tive a oportunidade de participar de vários encontros com este sacerdote santo, juntamente com pequenos e grandes grupos de pessoas. Algumas dessas reuniões estão filmadas e se encontram disponíveis na internet. Quem tiver a oportunidade de assistir, terá a grata surpresa de conhecer um sacerdote alegre, simpático, disponível e interessado em conhecer a nossa realidade, ouvir-nos e abrir-nos grandes horizontes. Ficamos cativados pela sua alegria, pela agilidade das suas respostas, pelo carinho que manifestava com as pessoas.
Todos os que vimos e ouvimos este sacerdote naquele momento, tínhamos a convicção de conviver com um verdadeiro santo, porque também sabíamos que Deus se utilizou dele para difundir uma mensagem nova na Igreja: a vocação universal à santidade e ao apostolado cristão. Deus mostrou a São Josemaría Escrivá que ele deveria proclamar a pessoas de todas as condições – homens e mulheres; jovens e velhos; sãos e enfermos; ricos e pobres; trabalhem onde trabalharem – que estão chamados a converter toda a sua atividade em uma ocasião de amar e de servir a Deus e aos outros. Ou seja, recordar que a vocação à santidade é comum a todos os batizados e está na entranha do Evangelho: “Sede perfeitos como meu Pai celestial é perfeito” (Mt 5,48). A santidade radica-se na caridade e pode ser alcançada no âmbito da vida diária, no cumprimento dos deveres inerentes ao próprio estado e condição de vida.
Quando Jesus veio ao mundo, assumindo a natureza humana, permaneceu 30 anos dedicado a uma tarefa aparentemente intranscendente. Este período, comumente denominado “anos da vida oculta”, ganha um novo significado à luz do que Deus mostrou a esse sacerdote. Em Jesus trabalhando na oficina de José, encontramos um modelo acabado de santidade cristã, acessível à imensa maioria dos homens, que emprega quase a totalidade do seu tempo e suas energias à respectiva profissão ou ofício.
Desde 1928, São Josemaría começou a ensinar que o trabalho de cada dia não é alheio aos planos de Deus acerca da nossa vida. O compromisso de ser cristão não se reduz a alguns momentos de oração ou à celebração dominical. Ele nos insistia que não podemos levar uma vida dupla: por um lado o trabalho de todos os dias, com suas exigências de horário, de atenção aos compromissos; por outro, completamente separada, a vida espiritual de relação com Deus. Como se fôssemos duas pessoas: uma de segunda a sexta-feira e outra de sábado e domingo.
De diversas maneiras e com expressões vivas, Monsenhor Escrivá mostra que “para um apóstolo moderno, uma hora de estudo é uma hora de oração” (Caminho, n. 335). Ou então, “antes só descascava batatas, agora, santifica-se descascando batatas” (Sulco, n. 498). Trabalho e oração devem estar unidos: é missão dos leigos santificar as realidades terrenas e transformar o trabalho em oração e em apostolado. Oferecendo a Deus cada tarefa e esforçando-se por trabalhar com ordem, com intensidade, competência, sentido de responsabilidade e espírito de serviço. Quando nos sentirmos acompanhados por Deus durante todo o dia, saberemos trabalhar com alegria e crescerá o anseio de aproximar os nossos amigos e colegas de Deus, a partir das próprias incidências da vida diária.
A vocação universal à santidade – pregada por Josemaría desde 1928 – é hoje doutrina solenemente proclamada pelo Concílio Vaticano II: “Todos os fiéis cristãos, nas condições, ofícios ou circunstâncias de sua vida, e por meio disto tudo, dia a dia mais se santificarão, se com fé tudo aceitam da mão do Pai celeste e cooperam com a vontade divina, manifestando a todos, no próprio serviço temporal, a caridade com que Deus amou o mundo.” (Constituição dogmática Lumen gentium, 41).
Contudo, sabemos que manter esta união com Deus ao longo do dia exige receber uma contínua assistência espiritual. Isto é o que a Prelazia do Opus Dei proporciona: uma formação aprofundada – doutrinal, espiritual e apostólica – aos fiéis que a desejarem. Alguém comparou o trabalho da Obra de Deus a um posto de serviços: o motorista estaciona para abastecer o seu carro de combustível, verificar o nível do óleo do motor e a pressão dos pneus etc. A partir daí, pode continuar circulando com segurança. O mesmo serviço espiritual é oferecido aos fiéis que se aproximam da Prelazia: recebem o “reabastecimento” de sua vida interior para sair novamente a desempenhar a sua tarefa de santificação do trabalho cotidiano, fazendo o seu apostolado em todos os ambientes de suas relações familiares, profissionais, religiosas e sociais. Que São Josemaría abençoe o nosso esforço no caminho da santidade!