Nossa Senhora do Rosário

Dom Carlos Lema Garcia

A devoção do Santo Rosário tem uma origem muito antiga na espiritualidade cristã. Os monges irlandeses no século VIII recitavam os 150 Salmos da Bíblia, como até hoje fazemos na Liturgia das Horas, ao longo das semanas. Como a maioria do povo naquele momento não sabia ler, os monges ensinaram a rezar 150 Ave-Marias no lugar dos salmos. Assim, a devoção do Terço começou a se espalhar pelo mundo. A palavra Rosário quer dizer um ramalhete ou um buquê de rosas que se oferece a Nossa Senhora. Cada Ave Maria é uma rosa que oferecemos a ela, com carinho e esperança. Assim, quando rezamos o Rosário completo, oferecemos um buquê de duzentas rosas a Nossa Senhora.

São Domingos de Gusmão, fundador da Ordem dos Dominicanos, foi o grande propagador da devoção do Rosário no início do século XIII. Por esse motivo, a Igreja conferiu-lhe o título de Apóstolo do Santo Rosário. A festa de Nossa Senhora do Rosário remonta a um episódio no século XVI, em que o Papa São Pio V exortou a todos os cristãos a rezarem o Terço para proteger a Europa da invasão dos turcos, na batalha de Lepanto. Era uma batalha extremamente importante, pois dela dependia a preservação do Cristianismo e da cultura ocidental. Com a vitória adquirida, o Papa instituiu a celebração da festa de Nossa Senhora do Rosário no mesmo dia da batalha, reconhecendo a vitória conquistada por meio das orações do Rosário. Sendo este Papa da ordem dos dominicanos, seguiu a inspiração do fundador e instituiu esta festa, inicialmente chamada de Santa Maria da Vitória.

A recitação do Rosário une a terra ao Céu. Maria Santíssima, em suas aparições, como em Lourdes, em Fátima e tantas outras, sempre insistiu para que nós rezemos o Rosário, que é um dos caminhos para se chegar a Jesus e à salvação eterna. O Santo Rosário é também uma poderosa arma de intercessão, um meio certo de se obter graças através da Virgem Maria. Os mistérios do Rosário, divididos em quatro grupos, percorrem os grandes momentos da história da Redenção: o anúncio do Nascimento e a infância de Jesus, os episódios da vida pública, a Paixão, Morte e Ressurreição, além de Pentecostes, Assunção e Coroação de Maria Santíssima. Nestes mistérios, de uma forma ou de outra, encontramos sempre presente Maria Santíssima. Não se trata apenas de repetir monotonamente as Ave-Marias, mas de contemplarmos os mistérios propostos em cada dezena. Os quatro grupos de mistérios se escalonam ao longo dos dias da semana de tal maneira que se convertem em uma espécie de compêndio da vida de Jesus. Dessa maneira, ao rezarmos o Terço ao longo da semana, consideramos os momentos principais da vida de Jesus e de Maria, sua Santíssima Mãe, e aprendemos a contemplar a vida de Jesus sob o olhar de Santa Maria.

São João Paulo II, em julho de 1980, na sua visita a Aparecida, nos dizia: “E vós, devotos de Nossa Senhora e romeiros de Aparecida… conservai zelosamente este terno e confiante amor à Virgem, que vos caracteriza. Não o deixeis nunca arrefecer. E não seja um amor abstrato, mas encarnado. Sede fiéis àqueles exercícios de piedade mariana tradicionais na Igreja: a oração do Ângelus, o mês de Maria, e de maneira especial, o Rosário…”

Em 2013, o Papa Francisco foi rezar em Aparecida antes da JMJ do Rio de Janeiro e terminou a homilia dizendo: “Queridos amigos, viemos bater à porta da casa de Maria. Ela abriu-nos, fez-nos entrar e nos aponta o seu Filho. Agora Ela nos pede: ‘Fazei o que Ele vos disser’ (Jo 2,5). Sim, Mãe, nos comprometemos a fazer o que Jesus nos disser! E o faremos com esperança, confiantes nas surpresas de Deus e cheios de alegria”.

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