Jovens revolucionários

D. Carlos Lema Garcia

O Papa Francisco no encontro com os voluntários, na tarde do domingo, último dia da JMJ no Rio de Janeiro, em 2013 fez uma proposta surpreende: “…eu peço que vocês sejam revolucionários, que andem contra a corrente; sim, nisto peço que se rebelem: que se rebelem contra esta cultura do provisório que, no fundo, crê que vocês não são capazes de assumir responsabilidades, que não são capazes de amar de verdade. Eu tenho confiança em vocês, jovens, e rezo por vocês. Tenham a coragem de “ir contra a corrente”. Tenham a coragem de ser felizes!”

Ser revolucionários, conforme a proposta do Papa, é assumir a responsabilidade pessoal sem medo.

O que significa a cultura do provisório? A tendência a curtir o momento, a encarar tudo na vida como diversão. Vemos hoje muitas pessoas assim: não querem assumir nenhum compromisso, não querem prender-se a nada nem a ninguém. Desejam apenas viver sem responsabilidade, sem exigências, sem cobranças. Essa tendência se expressa na “filosofia do Zeca Pagodinho: “Deixa a vida me levar…” “Não vou me preocupar com nada, com o futuro, com o que esperam de mim. Se ninguém esquenta com os outros, ninguém está nem aí, porque eu devo ser diferente?” Significa também abolir a lei do gosto de do capricho: “só faço o que eu quiser e quando eu quiser. Não faço nada se não tiver vontade, porque sou autêntico.” Por fim, ser revolucionário como o Papa nos pede exige lutar contra a lei de Calvin: “egoísta é todo aquele que não pensa em mim”.  A lógica do egoísta é simples: se ninguém pensa em ninguém, porque eu tenho que ser o único que pensa nos outros, que não garante as suas coisas?

O Papa Francisco, ao fazer essa proposta audaz, deseja contar com os jovens para mudar as coisas. Todo jovem sente o sincero desejo de um mundo melhor. Pensemos em alguns jovens que mudaram o mundo. Em primeiro lugar, Maria, a Mãe de Jesus. Era uma jovem de quinze ou dezesseis anos quando recebeu o convite para a sua vocação à Maternidade divina. Desde menina, tinha um sonho de agradar a Deus em tudo, desejava viver aberta à contemplação das maravilhas do mundo e costumava estar em oração. Ela aceitou a proposta de Deus e o mundo mudou totalmente. A partir do seu «sim» à sua nova missão, o Filho de Deus vem a este mundo. Jesus, o Salvador, entra definitivamente na História humana.

O segundo jovem que mudou realmente este mundo é seu Filho, Jesus Cristo. Já aos doze anos, quando ficou no templo de Jerusalém conversando com os doutores, todos notavam a sabedoria das suas respostas. Jesus mudou o mundo com a sua vitória sobre o mal, sobre o pecado e, sobretudo, sobre a morte. Jesus era jovem quando instituiu a Eucaristia, quando entregou a sua vida na Cruz, oferecendo-se em resgate pelos pecados de todos os homens, reconciliando o Céu e a terra. Ao ressuscitar, abriu definitivamente as portas do Céu e restaurou a esperança da vida e da felicidade eterna para todos os homens. Jesus continua sendo o Jovem Salvador do Mundo, o único eternamente jovem, o grande ideal das nossas vidas.

Jovem era o apóstolo João, que se manteve fiel até o fim, o único dos discípulos a não se afastar de Jesus durante a Paixão, que não teve medo de sofrer represálias por sua proximidade com Jesus. Dá a cara sem medo, porque ama, porque é um amigo fiel e não vai abandonar Jesus naquela situação. Um jovem que soube superar seus ímpetos juvenis, seus desejos de vingança e de reações violentas, e passou a transmitir uma verdade sublime: «Deus é Amor!» (1 Jo 4, 8).

Se você tem o desejo de mudar o mundo, a primeira providência é descobrir o que você tem que mudar em sua vida, mudar dentro de você mesmo, para que as coisas melhorem. Não nos enganemos: é muito fácil colocar-se numa postura crítica, apontar os erros e as incoerências dos outros colegas, dos professores, dos empresários, dos políticos, do sistema, do governo… Nem você nem eu temos poder ou influência suficiente para mudar o mundo ou a sociedade à nossa volta. Se não conseguimos mudar as pessoas mais próximas – pense nos seus colegas de curso ou de sala –, como mudaremos todo o mundo?

Mas se nós nos empenharmos em melhorar como pessoa, o mundo ficará um pouco melhor. Se você tem o costume de se deixar levar pela preguiça na hora do estudo e se esforça para se corrigir e enfrenta as matérias e tira melhores notas, o mundo já começou a mudar. Se você se esforça por dizer sempre a verdade e luta para não admitir uma mentira, por pequena que seja, o mundo terá mais verdade. Se você corrige a sua tendência a criticar, a murmurar e a fazer comentários depreciativos sobre as outras pessoas ou o mundo, nessa medida o mundo melhorou um pouco. Se você se esforça por demonstrar amor a Deus e rezar por aqueles que não rezam e não conhecem a Deus, o mundo está recebendo o benefício da sua oração por eles. Pense na quantidade de amigos, colegas e conhecidos seus: talvez não tenham outro modo de se aproximar de Deus a não ser através de você, da sua amizade, da sua proximidade.

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