Ano novo, luta nova
D. Carlos Lema Garcia
Muitos dizem que o ano começa mesmo só depois do carnaval. Supondo que seja assim, vamos refletir sobre as nossas disposições para enfrentar este novo ano. É frequente que as pessoas tomem suas resoluções para o início de um novo ano. Agora parece um bom momento para nos lembrar daquelas nossas promessas para o ano novo. Algumas pessoas se propõem a ler mais: para conseguir, devem primeiro escolher bem o livro e determinar um horário. Ser mais organizado: definir o local de guardar cada coisa de acordo com o uso e lembrar que as coisas não voltam para o seu lugar sozinhas… Alimentar-se melhor: em vez de cair numa dieta rigorosa, comer de forma inteligente, mais leve, mais equilibrada… Acordar cedo e sair da cama na hora certa: assim, encontraremos tempo para fazer aquela oração ou leitura meditada do Evangelho.
Tudo isso é muito bom, mas sabemos que estas resoluções devem se converter em pontos de luta, de exercício de pequenos atos de virtude, com o empenho em dar pequenos passos, vencendo umas vezes, sendo vencidos em outras, para que – com o tempo – possamos, de fato, conquistar terreno, adquirir virtudes, melhorar nos defeitos que mais nos prejudicam.
Assim, não nos enganaremos, porque sabemos que apenas a mudança do calendário não é suficiente: ano novo não é sinônimo de vida nova. O correto deveria ser: ano novo, luta nova. Retomamos a luta para melhorar neste ano de 2020 inaugurado recentemente. Esperamos que seja uma ocasião para conseguirmos corrigir as nossas deficiências: enfrentar determinada situação, como um distanciamento das pessoas da família, no ambiente de trabalho, na igreja etc. Retomar aqueles hábitos de oração que nos fazem muito bem, como a recitação do Terço, a missa durante a semana, a Confissão frequente. Convidar aquela pessoa amiga para nos acompanhar na missa, oferecer um pequeno livro de orações e ensinar alguém a se preparar para a Confissão etc.
Sempre me lembro daquele episódio acontecido com um amigo meu: ele tomou o ônibus e, logo que se sentou e abriu seu livro, reparou que estava caída uma dentadura à sua frente. Pareceu-lhe algo incrível alguém perder a dentadura sem perceber. A seu lado estava um senhor idoso. Meu amigo pensava consigo. “Não pode ser dele a dentadura… porque – se fosse – teria sentido falta.” Então, resolveu continuar lendo seu livro. Mas a consciência não o deixava em paz: “Deve ser complicado mandar fazer outra dentadura… Se for dele, ainda poderia recuperá-la”. Mas pensou que seria se intrometer indevidamente na vida dos outros. No entanto, a sua consciência apelou para a solidariedade: “Quanto deve custar para fazer outra dentadura? Vai ter que ficar bastante tempo só tomando sopa e mingau. Se fosse comigo, eu gostaria que me alertassem para não perder algo de valor no ônibus”. Então, resolveu tomar iniciativa:
– Por favor, aquela dentadura caída ali não é sua?
Mas o velho também era um pouco surdo, e o meu amigo teve que falar alto no ônibus e todo mundo começou a olhar para trás:
– A-que-la den-ta-du-ra ca-í-da é su-a?, em voz forte, disse quase aos gritos, todo vermelho de vergonha. Não teve outro remédio senão enfrentar com audácia a situação.
Todos precisamos dessa coragem para encarar o novo ano com luta nova