Fazer o bem compensa

Dom Carlos Lema Garcia

Há anos um amigo me enviou um artigo de uma revista de economia cujo título chamava a atenção: “Fazer o bem compensa”. Assim começava o artigo: “A filantropia vem se transformando numa poderosa vantagem competitiva para as empresas e os executivos. Filantropia não é promoção de vendas. É uma questão de postura e de valores da empresa. É possível uma empresa pregar o bem e tratar a pontapés seus funcionários? O bem tem de ser um propósito verdadeiro.”

Vamos pensar em nossa responsabilidade em difundir o bem à nossa volta. A razão disso é que nenhum de nós é uma peça isolada: ninguém pode dizer que as suas coisas apenas dizem respeito a si mesmo. Tudo o que nós fazemos tem repercussão externa, direta ou indiretamente. Assim, por exemplo, uma pessoa que mente não apenas engana os outros, mas torna-se um mentiroso, ou seja, prejudica a si mesmo e, como consequência, aumenta a maldade do mundo. Também uma pessoa que trabalha a sério contribui para o benefício de toda sociedade. Não só cresce por si mesma, mas eleva os outros.

Encontramos, na segunda leitura de ontem, uma imagem utilizada pelo Apóstolo Paulo, numa de suas epístolas, ao tratar do Corpo Místico de Cristo (I Cor 12, 12-30): o nosso corpo necessita de cada um de seus membros: o dedo mindinho do pé, se estiver quebrado, deixará a pessoa toda imobilizada. E também cada membro necessita do corpo inteiro: isolado, separado do corpo, qualquer um dos membros apodrece e morre. O mesmo acontece na vida da sociedade, na vida da Igreja: nenhum de nós é uma peça isolada. Tudo o que acontece a um membro do Corpo Místico repercute nos outros. Trata-se de um mistério profundo e consolador: considerar que nenhum esforço nosso é perdido, que sempre estamos amparados pelos outros. Um dia Deus nos fará compreender as ressonâncias incalculáveis que tiveram na história do mundo e das pessoas, as palavras, ações e sacrifícios das pessoas boas e, desejamos também, as nossas. Perceberemos quanto fruto renderam nas outras pessoas os nossos sacrifícios, orações, trabalhos, incluindo aqueles que considerávamos estéreis ou de pouco interesse. Às vezes podemos pensar que o que podemos fazer é pouco. Mas, se não o fizermos, estaremos deixando de dar a nossa contribuição para o bem da sociedade. As necessidades dos nossos irmãos devem ser também nossas: trabalho, descanso, saúde, roupa, comportamento dentro da família. Sentir como nossas as dores as fadigas dos nossos irmãos; nossos os anseios e esperanças dos que estão à nossa volta e dos que estão geograficamente longe; nossos também os frutos de solidariedade humana que se faz em toda parte.

Por outro lado, todos nós precisamos dos outros: basta pensar na cadeira em que você está sentado nesse momento: quanta gente contribuiu para isso? A madeira cerrada, o projeto do desenho, a execução pelo marceneiro, a venda na loja, o transporte da cadeira até chegar na sua casa etc. Não faríamos nada sem a ajuda das outras pessoas. Também nos consola pensar que nunca estamos sozinhos: a realidade de participarmos do mesmo corpo também nos dá imensa fortaleza. Ajuda-nos a sentirmo-nos sempre apoiados nos outros. Quando nos sentimos cansados ou com falta de vontade de trabalhar, podemos pensar que, neste momento, há alguém rezando por nós, há alguém contando com a nossa colaboração para o Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja.

Por fim, não esqueçamos que as nossas omissões prejudicam os outros: como um pequeno furo num pneu acaba prejudicando o desempenho do carro: pode ter um motor potente, mas com o pneu furado não vai a parte alguma. Devemos sentir mais vivamente ainda nossa responsabilidade pela Comunhão dos Santos: os outros precisam da nossa fidelidade na vida espiritual. Não é um problema exclusivamente “meu”. Se eu não vibro, não luto, estou causando um prejuízo a todo mundo. Não podemos nos desincumbir desta responsabilidade. Nenhum de nós pode isolar-se. Precisamos dar a nossa parcela de contribuição para o bem comum. Não basta fechar-nos nas próprias coisas, como quem se contenta em cumprir o seu dever. Todos estamos convencidos de que o mundo seria diferente se houvesse verdadeira solidariedade da parte de todos. Cada um tem que pensar em que, pessoalmente, poderia fazer mais para contribuir com o bem comum. E constaremos que fazer o bem compensa.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

7 + 3 =

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Rolar para o topo
Facebook
Twitter
Instagram