A sabedoria do silêncio de Maria Santíssima

D. Carlos Lema Garcia

Durante o mês de maio, procuramos aprender sobre as virtudes de Nossa Senhora. Dentre muitos exemplos, poderíamos reparar no seu silêncio. Sabemos que o Evangelho de Lucas narra a anunciação da Maternidade Divina a Maria, pelo Arcanjo São Gabriel. No entanto, não nos fala da vida de Maria antes de conhecer sua vocação. Imaginamos que Lucas teria perguntado a ela outras coisas: sobre sua família, seus pais, sua infância etc. Mas ela permaneceu em silêncio: não diz palavra alguma. Ainda que seja tão importante a entrada de Deus neste mundo, Ela guardou para si o mistério: venceu a tendência humana da vaidade de falar das próprias realizações. Seu esposo, São José, e sua prima, Isabel, recebem do Espírito Santo a revelação da Maternidade Divina porque Maria não lhes fala nada sobre o mistério da Encarnação.

E, ao chegarem a Belém, Maria não faz uso da sua condição de Mãe do Messias para conseguir uma hospedagem digna. Não diz nada na noite santa, quando os pastores vêm adorar o recém-nascido. Nem se dá importância com a visita dos sábios do Oriente. Não diz nada: simplesmente guarda o mistério da Encarnação do Filho de Deus e medita em seu coração. Como São João Paulo II escreveu na Carta Apostólica sobre o Rosário, “Maria vive com os olhos fixos em Cristo e guarda cada palavra sua: ‘Conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração’ (Lc 2,19). As recordações de Jesus, estampadas na sua alma, acompanharam-na em cada circunstância, levando-a a percorrer novamente com o pensamento os vários momentos da sua vida junto com o Filho. Foram essas recordações que constituíram, de certo modo, o ‘rosário’ que Ela mesma recitou constantemente nos dias da sua vida terrena” (nº 11).

Assim, também o Egito não ficou sabendo que o Messias viveu alguns anos lá. Durante o período da vida oculta de Jesus, sua Mãe Maria é mais uma entre as mulheres do seu povo. E os vizinhos se surpreendem quando Jesus começou a ensinar: “Por acaso não é este o carpinteiro, o filho de Maria?” (Mc 6,3). Exceto o milagre em Caná da Galileia, não a vemos nos momentos de exultação, como a entrada de Jesus em Jerusalém, ou quando seu Filho realiza milagres portentosos diante da multidão. No entanto, Maria não foge do desprezo do Calvário. Está firme, de pé, junto à Cruz de Jesus.

Quando Nossa Senhora fala, é para perguntar como corresponder aos planos de Deus ou para louvá-lo, no Magnificat, ou para pedir um milagre a Jesus, intercedendo em Caná. Assim viveu sempre: quando fala, fala de Deus, fala das necessidades dos outros. Por quê? Porque está sempre pensando em Deus, pensando no seu amor a Jesus, seu Filho, ou em nós, seus filhos adotivos. Trata-se de uma atitude que demonstra sua sabedoria, sua profunda humildade.

Temos muito que aprender sobre o silêncio de Maria, pois, como diz o Cardeal Robert Sarah em um de seus livros (“A Força do Silêncio”), “os maiores mistérios do mundo nascem e desabrocham no silêncio. As árvores crescem silenciosamente, e as fontes de água começam a correr no silêncio da terra. O sol se ergue sobre a terra, aquece-nos, brilhante e grandioso, em silêncio… A arte também é fruto do silêncio. Como se há de contemplar, a não ser no silêncio, um quadro ou uma escultura, a beleza de uma cor ou a adequação de uma forma? A grande música escuta-se no silêncio…”

Jesus também nos aconselha a rezar em silêncio, quando diz: Quando orardes, não façais como os hipócritas, que gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens… Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê o que se passa em segredo, te recompensará” (Mt 6,5-6). É o silêncio do coração que se abre a Deus numa conversa sincera e direta, de quem se sabe na presença de Deus e se retira a um local silencioso para contar-lhe as suas coisas. Nós todos deveríamos cultivar momentos de silêncio para crescer na amizade com Deus, num diálogo de oração, numa contemplação que nos ajude a conhecer e amar a Vontade de Deus acerca das nossas vidas. Que Nossa Senhora nos ajude!

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